Fique por dentro

Jornalista militante Antonio Carlos Felix Nunes cumpriu sua missão, diz deputado Pedro Kemp

mar 13, 2017 | Em destaque | 0 Comentários

“Antonio Carlos Felix Nunes fez jornalismo comprometido com as lutas dos movimentos sociais, tinha sempre uma postura critica frente à sociedade excludente em que vivemos, dando voz aqueles que não têm voz e visibilidade aos setores marginalizados da sociedade. Cumpriu sua missão de fazer um jornalismo engajado”. (Deputado estadual Pedro Kemp – PT/MS – sobre a morte do jornalista da Folha de SP, criador do personagem ‘João Ferrador’)

Mais um importante nome da esquerda brasileira se vai. O jornalista Antonio Carlos Felix Nunes, 84, ferrenho defensor dos trabalhadores e trabalhadores, criador do personagem “João Ferrador”, desenho de um operário que estampava as camisetas na época da Ditadura Militar – uma forma de driblar a censura.
Em 1995, o jornalista, aposentado da “Folha de São Paulo”, veio pescar em Aquidauana, apaixonou-se pelas belezas naturais da região e resolveu mudar para o Estado. Ele morava em Anastácio.

Daqui A POUCO mais informações.
Seguem matérias sobre o trabalho de Antonio Carlos Felix Nunes:

As Grandes Entrevistas do Pasquim/Facebook 2016
Quando Lula chegou na redação do Pasquim, em março de 1978, para a sua entrevista, trajava uma camiseta branca com um desenho do João Ferrador dizendo seu bordão: “Hoje eu não tô bom”. Um desenho do Laerte,
Este personagem nasceu numa seção do jornal de sindicato Tribuna Metalúrgica, “Bilhetes do João Ferrador”, em 1972, onde o jornalista Antonio Carlos Felix Nunes denunciava as péssimas condições dos trabalhadores. Com o tempo, virou mascote do jornal, em forma de desenho, nas mãos do cartunista Otávio.
Quando o movimento dos metalúrgicos do ABC começou a tomar forma, em 77 – numa reação que viria a sacudir o país, sob a liderança de Lula e outros sindicalistas – João Ferrador, agora desenhado por Laerte, foi o símbolo dessa luta,.
A versão Laerte apareceu não só no Pasquim mas foi difundido em vários lugares. “Hoje eu não tô bom” era bradado na voz de trabalhadores por todo o país. Laerte criou cartuns e tiras com o JF, que foi um ícone da imprensa sindical.
Leia um depoimento do próprio Lula :

“O João Ferrador são todos e cada um dos trabalhadores. É o símbolo de nossa consciência e da nossa dignidade. Só por isso ele foi criado. Inicialmente, pareceu de perfil – cara e bonezinho, escrevendo seus bilhetes. Mandava nossos protestos às autoridades. E, à medida que cresceu nossa organização e começamos a conquistar espaços no campo das batalhas contra os patrões, ele se revelou de corpo inteiro. Então, sua linguagem e seus gestos se tornaram mais ousados. Assim popularizou-se essa figura na qual todos nós nos encarnamos. Hoje, para destruí-la, as autoridades teriam mesmo de prender e arrebentar todos os trabalhadores.”

Revista da Fetems 2012:

“Caminhou muito do lado dele , nas portas das fábricas, registrando as mobilizações e as lutas do Sindicato”, disse em entrevista à revista da FETEMS sobre a participação de Lula na construção do sindicalismo brasileiro.
Antonio Carlos Felix trabalhou como editor por mais de 10 anos na Tribuna Metálica – jornal considerado responsável pela eclosão da primeira greve operária no ABC paulista, fato que apressaria o fim da ditadura militar no país.
Antônio Carlos Félix Nunes nasceu em 1931 em Itirapina, no interior do estado de São Paulo. Filho de gente simples, estudou apenas o primário. Na infância desenvolveu uma adoração pela leitura de jornais. Autodidata, tornou-se jornalista e escritor forjado na cartilha sindical do ABC paulista.
O jornalista é considerado um dos pioneiros da comunicação sindical brasileira, editou jornais para cerca de 20 sindicatos no período entre 1964 e 1980. Fundou em 1971, e foi editor por mais de dez anos do “Tribuna Metalúrgica”, jornal considerado responsável pela eclosão da primeira greve operária no ABC paulista, que apressaria o fim da ditadura militar no país.
Criou personagens que viraram ícones das lutas dos trabalhadores brasileiros, como o João Ferrador, “operário”, que foi desenhado pelo cartunista Laerte Coutinho. No “Tribuna Metalúrgica”, o personagem escrevia cartas aos governantes exigindo seus direitos.
“Quero falar”, era desta forma que João Ferrador se expressava, e bravo reclamava da queda do poder aquisitivo dos trabalhadores, o aumento do preço do arroz, feijão, ovos, carne, leite ”

Em uma seção intitulada “Bilhetes do João Ferrador” a personagem mandava recados irônicos e duros às autoridades brasileiras. Levantava assuntos como queda do poder aquisitivo dos trabalhadores, aumento do preço dos alimentos, inflação, lutas sindicais. Tinha como bordão a frase “Hoje eu não to bom” . Segundo Eder Sader:
“Representando o bom senso de um operário comum, dirige-se respeitosamente mas com desenvoltura às autoridades. E é através da ironia que ressalta dos bilhetes do “João Ferrador” que o jornal vai expressando sua distância crescente em relação ao governo. O “João Ferrador” dirige-se às autoridades (“do meu Brasil grande e potente”, como aparecia sempre) pressupondo o patriotismo destas e sua legitimidade. Afirma sua ignorância e quer ser esclarecido. Então refere-se a algum fato ou proclamação oficial e, expondo as condições concretas da vida operária, revela o absurdo de dada situação. A força da sua argumentação contrasta com a modéstia e humildade da conclusão, quando pede às autoridades que tomem providências. Provavelmente um dos fatores do êxito dessa personagem deve ter estado no equilíbrio entre sua capacidade de investir-se da postura subalterna dos dominados ao mesmo tempo que dava forma racional e consistente às profundas insatisfações com a situação.” (SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo (1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.) (SILVA, 1980: 8)
E agora, um depoimento de Lula sobre João Ferrador:
“O João Ferrador são todos e cada um dos trabalhadores. É o símbolo de nossa consciência e da nossa dignidade. Só por isso ele foi criado. Foi a nossa voz na Tribuna Metalúrgica durante os últimos 8 anos. Inicialmente, pareceu de perfil – cara e bonezinho, escrevendo seus bilhetes. Mandava nossos protestos às autoridades. E, à medida que cresceu nossa organização e começamos a conquistar espaços no campo das batalhas contra os patrões, ele se revelou de corpo inteiro. Então, sua linguagem e seus gestos se tornaram mais ousados. Assim popularizou-se essa figura na qual todos nós nos encarnamos. Hoje, para destruí-la, as autoridades teriam mesmo de prender e arrebentar todos os trabalhadores.” (SILVA, 1980: 8)

Lula com a camiseta do João Ferrador (foto ao lado)
HISTÓRICO DO PERSONAGEM:
“QUERO FALAR TAMBÉM”
A campanha QUERO FALAR TAMBÉM é composta de peças de vídeo que usam diversas linguagens e narrativas. O objetivo é envolver a sociedade brasileira e conscientizar sobre a busca por uma liberdade de expressão como direito de todos, além de explicar a necessidade da renovação do marco que regulamenta a Comunicação no Brasil.
Alguns vídeos:

Com o jornalista Félix Nunes, Ex-assessor do Lula e um dos fundadores da comunicação sindical. Confira a entrevista que Nunes concedeu para a equipe da Revista Atuação da FETEMS:

24/08/12 17:37h http://www.fetems.org.br/novo/showEntrevista.php…
Com apenas o curso primário, Félix Nunes enfrentou as dificuldades da vida e tornou-se um dos maiores jornalistas sindicais do país. Com coragem escreveu contra à ditadura, caminhou no movimento sindical do ABC ao lado do amigo Lula, idealizou João Ferrador, personagem que tornou-se ícone dos operários brasileiros.
Antônio Carlos Félix Nunes nasceu em 1931 em Itirapina, no interior do estado de São Paulo. Filho de gente simples, estudou apenas o primário. Na infância desenvolveu uma adoração pela leitura de jornais. Autodidata, tornou-se jornalista e escritor forjado na cartilha sindical do ABC paulista.
O jornalista é considerado um dos pioneiros da comunicação sindical brasileira, editou jornais para cerca de 20 sindicatos no período entre 1964 e 1980. Fundou em 1971, e foi editor por mais de dez anos do “Tribuna Metalúrgica”, jornal considerado responsável pela eclosão da primeira greve operária no ABC paulista, que apressaria o fim da ditadura militar no país.

Criou personagens que viraram ícones das lutas dos trabalhadores brasileiros, como o João Ferrador, “operário”, que foi desenhado pelo cartunista Laerte Coutinho. No “Tribuna Metalúrgica”, o personagem escrevia cartas aos governantes exigindo seus direitos.

Félix é autor dos livros Além da Greve, PC Linha Leste, Fora de Pauta, Bilhetes de João Ferrador, Soprando nossas Ideias, Quando os Pássaros Foram à Luta e Miscelânia, que está sendo reeditado.
Em 1995, Félix veio pescar em Aquidauana e apaixonou-se pelas belezas naturais da região. Resolveu mudar para o Estado e atualmente reside no município de Anastácio. Aos 81 anos, Félix Nunes continua exercendo o jornalismo com paixão.

FETEMS – Por que resolveu ser jornalista?
Félix – Quando criança eu acompanhava o meu pai em tudo. Era filho único e queria fazer tudo que ele fazia. Trabalhei com ele no comércio e fui bóia fria. Mas, depois que eu aprendi a ler e a entender as palavras, passei a adorar a leitura de jornais. Contudo, na maioria das vezes, eu tinha acesso apenas à publicações velhas. Mesmo assim, lia todas as edições e foi daí que surgiu a minha vontade de ser jornalista.

Como conseguiu atuar como jornalista apenas com o curso primário?
Félix – Naquela época, bastava aprender usar a máquina de escrever e ter coragem. Sou autodidata e foi isso que eu fiz, aprendi a lidar com a máquina. Me filiei ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e fui ser o redator de um jornal do partido, que se chamava “Notícias de Hoje”, a partir disso fui aprendendo no dia-a-dia. Em 1960, o jornal do PCB foi fechado por questões políticas. Trabalhei em diversos locais, sempre na defesa das lutas dos trabalhadores, a comunicação sindical sempre foi uma das minhas principais linhas de atuação.

O que fez quando o jornal do PCB foi fechado?
Félix – Já estávamos vivendo o clima da Ditadura Militar e para sobreviver fui trabalhar com a burguesia. Fui redator do jornal da Associação Comercial de São Paulo, um veículo que é muito forte até os dias de hoje. Depois arrisquei na grande mídia e consegui emprego no jornal “Notícias Populares” do grupo da Folha de São Paulo, que naquela época já tinha uns seis jornais. Fazia uma coluna sindical diariamente, era o assunto que eu mais entendia. Essa coluna estourou, tinham pessoas que compravam o veículo só para ler o que eu escrevia. A partir disso, os sindicatos começaram a me procurar para escrever os seus jornais e a minha carreira foi se consolidando no meio sindical.

O que o “Tribuna Metalúrgica” representou na sua vida?
Félix – Eu morava distantede São Bernardo, onde ficava localizada a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. Um dia, recebi a visita de alguns diretores do Sindicato, que me pediram para fazer o jornal. Na época, já fazia mais de 10 jornais sindicais, tentei resistir, mas não deu. Então, nasceu o “Tribuna Metalúrgica”, em julho de 1971, que surgiu da necessidade de se manter um diálogo com os trabalhadores. No início, houve resistência da parte dos próprios trabalhadores, que muitas vezes não queriam ler o jornal. Eram tempos difíceis, um dos períodos mais repressores da ditadura militar, quando haviam editado o Ato Institucional número 5, o famigerado AI-5. O “Tribuna Metalúrgica” é extremamente importante na minha vida. Ainda lembro, nós do Sindicato, panfletando o jornal nas portas das fábricas, tentando convencer os trabalhadores de que o regime ditador era o que podia existir de pior para o país.

Foi nessa época que surgiu o personagem “João Ferrador”?
Félix – Nós precisávamos pensar numa solução para facilitar o contato com os trabalhadores. Dessas conversas, surgiu à idéia de criarmos um personagem, um operário, que dialogasse diretamente com a categoria. Então, criei o “João Ferrador”, metalúrgico, que escrevia bilhetes, geralmente direcionados à autoridades do governo, exigindo os seus direitos como melhores de salários, condições de trabalho e, assim por diante. Era uma linguagem mais ou menos da fábrica, com ironia. Aí pegou. Na época, o personagem foi desenhado pelo cartunista Laerte Coutinho.

Como era ser jornalista na ditadura militar?
Félix – Era uma época de repressão, de censura à liberdade de imprensa. Nós tínhamos que ter muita coragem para continuar escrevendo, principalmente os jornais sindicais, que eram críticos ao regime ditador e exigiam melhores condições de trabalho para as categorias. Me recordo que o AI-5, que foi o quinto de uma série de decretos emitidos pelo regime militar brasileiro, nos anos seguintes ao Golpe militar de 1964, dava poderes extraordinários ao presidente da república e suspendia várias garantias constitucionais. Além disso, durante a vigência desse decreto, veio a censura prévia, que se estendia à imprensa. Cheguei a ser preso para dar informação, vivíamos tensos, trabalhávamos com medo, sabíamos de amigos que tinham sido presos e estavam desaparecidos, mas ao mesmo tempo, tínhamos a nossa ideologia e uma vontade enorme de ver a democracia restabelecida no Brasil.

Como era a sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Sindicato dos Metalúrgicos no ABC paulista?
Félix – Quando entrei no Sindicato dos Metalúrgicos, o Lula ainda não tinha um cargo de expressão na diretoria, ele estava estudando e trabalhando. Depois de um tempo, ele veio de vez para o Movimento Sindical. Começou a ter contato com o movimento por intermédio de seu irmão, José Ferreira da Silva, mais conhecido como Frei Chico.
Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, no ABC paulista, realizou uma eleição para escolher uma nova diretoria. Foi aí, que Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato e eu fui assessor dele nesta época. Ele não fazia nada sem me consultar. Lembro que ele lia o “Tribuna Metalúrgica” antes de qualquer pessoa, antes de enviarmos para a diagramação. Ele era o primeiro a revisar o jornal. Caminhei muito ao lado do Lula, nas portas das fábricas, registrando as mobilizações e as lutas do Sindicato.
Fiquei com ele no Sindicato até as coisas apertarem durante a Ditadura Militar, fiquei um ano trabalhando sem poder produzir o “Tribuna Metalúrgica”, por causa da repressão. Depois sai de lá, mas até hoje temos contato. Nossa história é de companheirismo.

Por que decidiu morar em Mato Grosso do Sul?
Félix – Eu vim pescar em Aquidauana e me encantei com as belezas daqui, a natureza, a calma e a paz do lugar. Já estava aposentado por tempo de serviço, então resolvi fugir da loucura de São Paulo e vim para cá em 1995. Depois de algum tempo, comprei uma casa aqui em Anastácio, trouxe a minha companheira Maria. Aqui colaborei esporadicamente com a Folha de São Paulo e alguns outros jornais da capital paulista. Aqui nasceu também o jornal “O Aroeira”, idealizado por um grupo de amigos, inclusive com a participação do professor Roberto Magno, atual presidente da FETEMS. A idéia era termos um veículo mais popular, que combatesse a oligarquia local e dialogasse com os trabalhadores da região. O nome surgiu por causa da árvore Aroeira, imponente pelo seu porte, pela dureza da madeira e carrega a fama de ser a mais resistente do Brasil.

Qual a importância dos sindicatos investirem em comunicação?
Félix – É de extrema importância para o movimento sindical investir em comunicação, sem divulgar das ações, não há fortalecimento da luta e os sindicatos não conseguem avançar nas conquistas. É preciso que haja veículos informativos que falem a língua dos trabalhadores, que os mantenham informados sobre o que está acontecendo em relação a sua categoria.

Como analisa os meios atuais de comunicação?
Félix – Avançamos em tecnologia apenas, mas a comunicação que a maioria da população tem acesso, continua concentrada nas mãos de poucos. De famílias da oligarquia brasileira, que detêm o poder para informar o que quiserem e quando quiserem. Está é a realidade do Brasil há muitos anos. É preciso democratizar a comunicação, para que ela realmente chegue à todos, de forma verdadeira, informativa e crítica.
Entrevista na íntegra, com fotos, na Revista Atuação: Clique AQUI
http://www.blogdonassif.com.br/…/presidenta-governador-pref…

Jacqueline Bezerra Lopes
Jacqueline Bezerra Lopes

0 comentários