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MS perde a maior autoridade na defesa dos povos indígenas, diz Kemp

jul 3, 2012 | Em destaque | 0 Comentários

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
… eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Santo Agostinho

 
 
Faleceu nesta terça-feira (3) o étno-historiador e doutor Antonio Jacó Brand, 62, um dos principais nomes do País na defesa dos Povos Indígenas. Ele estava internado em Porto Alegre (RS), onde foisubmetido à cirurgia de retirada de válvula no coração. O professor deixou uma filha, que mora na capital gaúcha, e sua companheira, a professora Valéria Calderon.
 
Durante a sessão de hoje na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Pedro Kemp (PT) prestou homenagem ao pesquisador por ter marcado a história do Estado, que conta com a segunda maior população indígena do País.
 
“Professor, etno-historiador, uma das maiores autoridades da questão indígena, no Mato Grosso do Sul, especialista que se dedicou não apenas aos estudos/pesquisas que permitiram visibilidade à luta dos povos Guarani-Kaiowa, como também era um aliado que denunciava a opressão e a violência que essas comunidades indígenas sofrem. Renomado pelo seu compromisso na questão indígena, nos orientava nessa luta e era respeitado por seu engajamento em favor da garantia dos direitos dos povos indígenas, especialmente,do direito à posse de seus territórios tradicionais”.
  
Antonio Brand veio para o MS em 1977. Ao longo de sua trajetória o pesquisador reuniu admiradores e também
oponentes, pela sua grande atuação pela demarcação das terras indígenas em Mato Grosso do Sul. Sua trajetória foi marcada como um autêntico étnico-historiador e um acadêmico orgânico. Brand nunca calou-se diante das injustiças.
O corpo de Brand será sepultado em sua cidade natal Montenegro (RS). A família deve informar ao longo do dia o horário das despedidas. Uma caravana formada pelas lideranças indígenas da região Sul do estado (Caarapó) seguirá ainda hoje para Montenegro.
 
 
TRAJETÓRIA
 
 Atualmente Brand coordenava na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), o Neppi (Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas) e a Rede Saberes. Desde 1996, Brand trabalhava na formação de jovens acadêmicos na UCDB.
 
Formado em História pela Unisinos (Universidade Vale do Rio dos Sinos/RS) no ano de 1977, concluiu o mestrado na PUC-RS (Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul) em 1993 e o doutorado em 1998 na PUC-RS.
 
Em seu curriculum, uma vasta experiência na área de História, com ênfase em História da América, e atuou principalmente nos seguintes temas: educação indígena, território, desenvolvimento local e sustentabilidade, concentrando suas pesquisas junto à população kaiowa e guarani, no Mato Grosso do Sul. 
 
 (Texto: Jacqueline Lopes com colaboração de Marlene Ricardi e Margarida Marques)

Meu amigo Antonio Brand, você foi embora tão de fininho. Quando fiquei sabendo, você já estava quase de partida. Queria ter lhe dado um daqueles fortes abraços de despedida e lhe dizer meu muito obrigado. Obrigado pelas lições generosas de solidariedade. Obrigado por ter sido nosso professor na questão indígena, por ter ensinado a amar os pequenos e tão marginalizados povos nativos desse estado. Obrigado por seus estudos comprometidos e por sua presença sempre solidária no meio daqueles que resistiram e ousam continuar lutando pela vida com dignidade. Também eles aprenderam muito com você. O que mais sinto é que você não vai estar aqui na dança final, quando os índios vão finalmente entrar em sua terra e fazer a dança da vitória. Mas, eu sei que você já está na “Terra Sem Males”, participando da Aty Guassu de todos os povos e, ao lado dos Nhanderus e Nhandessis, abençoa nossa luta que deve continuar. Vai ser um pouco mais difícil sem você, mas que a sua ressurreição fortaleça nossos companheiros que se organizam para ver o sol brilhar depois da noite escura. Quanto a nós, vamos celebrar sua vida de tantas lições de tantas esperanças teimosas na VIDA. Grande abraço, irmão.

Pedro Kemp, Campo Grande, 3 de julho de 2012

josi
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