Após acareação entre delegado e ex-advogado do CIMI, Pedro Kemp questiona legalidade de gravação de áudio; administrador de fazenda situada na área onde Marcos Veron foi assassinado depõe em CPI e diz não ter provas contra comissão indigenista
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A CPI que investiga o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), uma das principais entidades que trabalham ao lado das comunidades indígenas na luta pela terra, novamente não trouxe provas concretas sobre a suspeita de que o CIMI estaria por trás de incitação nas retomadas das áreas. Divida em duas partes, a primeira trouxe de novo o ex-assessor jurídico do CIMI, Maucir Pauletti, que participou de acareação com o delegado André Matsushita.
No final, foi ouvido Ramon Aparecido, administrador da Fazenda Brasília do Sul, em Juti, área onde foi assassinado o líder Marco Veron (1983). Ele disse que era amigo de Veron, que é contra as retomadas das terras e que embora acredite que o CIMI apoia os indígenas contra os fazendeiros, não tem provas.
Acareação – Na primeira parte da CPI, o deputado estadual Pedro Kemp (PT), como membro da CPI, fez um alerta e questionou o fato da comissão ter apresentado na semana passada um áudio sem contextualizar a procedência, a legalidade e quem seriam os interlocutores em uma conversa de Maucir Pauletti.
No diálogo, o ex-assessor do CIMI reclamava do trabalho e não soube dizer em que situação houve a gravação.
Pauletti voltou atrás sobre uma conversa a qual havia citado o nome do delegado como parte da polícia que acompanhava as ações do CIMI. Matsushita, que foi ouvido primeiramente, disse que não tinha fundamento a afirmação. Em seguida, Pauletti fez a correção e disse que se confundiu.
Indígenas de Juti deverão depor em sessão secreta ainda a ser marcada. Familiares de Marco Veron deverão ser ouvidos.
Entenda o caso da morte de Veron:
Acusado por morte de cacique, foragido se entrega ao MPF após 12 anos
Homicídio de Marco Veron foi o único caso envolvendo morte de indígenas a ser levado a julgamento em MS
Nivaldo Alves de Oliveira, denunciado pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul pela participação no homicídio do indígena guarani-kaiowá Marco Veron, em 2003, apresentou-se hoje pela manhã na Procuradoria da República em Dourados, acompanhado de advogado. Ele estava foragido há 12 anos, desde que teve prisão preventiva decretada. Nivaldo prestou depoimento no MPF e, como a ordem de prisão estava em aberto, ele foi encaminhado à carceragem da Polícia Federal em Dourados, onde ficará à disposição da Justiça Federal.
Nivaldo foi denunciado pelo MPF mas, foragido, teve o processo em relação a ele desmembrado e suspenso. Agora, o processo judicial poderá voltar a tramitar.
Caso Veron
Acampados na Fazenda Brasília do Sul, em Juti, região sul do estado, na área reivindicada por eles como Tekohá Takuara, os kaiowá sofreram ataques nos dias 12 e 13 de janeiro de 2003, de um grupo de trinta a quarenta homens armados que foram contratados para agredí-los e expulsá-los daquelas terras.
No dia 12, um veículo dos indígenas com 2 mulheres, um rapaz de 14 anos e 3 crianças de 6, 7 e 11 anos foi perseguido por 8 km, sob tiros.
Na madrugada do dia 13, os agressores atacaram o acampamento a tiros. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura. Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e espancada. Marcos Veron, à época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.
O julgamento dos réus Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos, Jorge Cristaldo Insabralde e Nivaldo Alves de Oliveira foi considerado histórico, por ser o primeiro envolvendo acusados pela morte de indígenas em MS. Os três réus foram condenados a 12 anos e 3 meses de prisão em regime fechado por sequestro, tortura e lesão corporal a seis indígenas, além de formação de quadrilha armada e fraude processual. Em outubro de 2008, o MPF ofereceu denúncia contra outras 24 pessoas por envolvimento no crime.
Outro ineditismo do caso foi o desaforamento, que é quando um julgamento é realizado fora do estado em que ocorreu o crime. O júri foi transferido de Dourados (MS) para São Paulo (SP) a pedido do MPF, por causa do preconceito contra os indígenas em MS, o que poderia influenciar no resultado do julgamento.
Assessoria de Comunicação Social
(Texto: Jacqueline Lopes – assessoria de imprensa Mandato Participativo Pedro Kemp
Imagem: Wagner Guimarães/AL – arquivo internet)
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