“Assim como os pássaros, voaremos enquanto não arrancarem nossas asas”, declarou o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, no lançamento do Fórum em Defesa dos Povos Indígenas, nesta quarta (23).
Brasília – O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, não se intimidou com a presença de representantes de vários povos indígenas e arriscou uma comparação típica da cultura deles para definir o sentimento presente no lançamento do Fórum em Defesa dos Povos Indígenas: “Assim como os pássaros, voaremos enquanto não arrancarem nossas asas”, declarou Fonteles, nesta quarta-feira (23), na capital federal.
A Frente, definiu Fonteles, nasce como um espaço de persistência e resistência na defesa dos direitos do índio. Mais um dos que sofreram perseguições no período da ditadura militar, o procurador-geral fez uma correlação com a sua vida pessoal e disse que já passou por momentos difíceis, mas ainda não desistiu da homologação contínua da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima.
“Quando se pensa em política indigenista, raramente os índios são concebidos como protagonistas. Nesse Fórum, eles são”, definiu Débora Duprat, que assumiu a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão das Comunidades Indígenas e Minorias do Ministério Público Federal. Uma das principais incentivadoras da criação do grupo, Débora pediu atenção a duas questões emergenciais: a saúde indígena, que passou por mudança recentes que está gerenado problemas em localidades como o Vale do Javari, e a mineração, que voltou à tona com os incidentes envolvendo os Cintas-Largas de Rondônia.
Para Agnaldo Pataxó, liderança do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe da Bahia, a iniciativa ajudará na união de esforços na luta pelos diretos dos povos indígenas que muitas vezes acaba se dando em disputas locais e individualizadas. “As forças antiindígenas são as mesmas de 500 anos atrás. O que mudou foi o jeito da ação”, alertou.
O colegiado do Fórum em Defesa dos Povos Indígenas será formado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pela organização não-governamental (ONG) Instituto Socioambiental (ISA), pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), pela Comissão Pró-Yanomami (CPPY) e pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI). A secretaria temporária da nova entidade ficará com a Coiab.
A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) também esteve representada no lançamento da Frente. “Ultimamente está em voga atacar antropólogos, em especial por questões relacionadas aos povos indígenas”, afirmou Gustavo Lins Ribeiro, presidente da ABA. Ribeiro destacou que na 24a Reunião Brasileira de Antropólogos, ocorrida de 12 a 15 de junho no Recife, cerca de 1,5 mil profissionais aprovaram três moções relativas à causa indígena, uma delas pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que homologue imediatamente a Raposa/Serra do Sol.
Classificado por dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de “instrumento número um para recuperar a dívida que se aprofunda”, o grupo contará também com a participação da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, presidida pelo deputado federal Eduardo Valverde (PT-RO). “É uma contribuição pátria à integridade do nosso país que até hoje se sente mutilado pelo tratamento dado aos povos indígenas”, emendou Balduíno. Com duas frases curtas, porém, foi dom Luciano Mendes de Almeida, histórico defensor dos direitos do cidadão, quem sintetizou com singularidade a importância do trabalho futuro do Fórum: “Os direitos indígenas são nossos, não são apenas deles. A garantia desses direitos ajuda a construir um Brasil que luta por todos”.
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