O PT é um partido que surgiu no cenário político, há quase 30 anos, com a vocação para disputar o poder a fim de conduzir um processo de mudanças profundas na sociedade, para transformá-la na perspectiva da radicalização da democracia e da justiça social. Forjou-se no seio das lutas sociais e aprendeu a organizar sonhos e esperanças, traduzindo-os em propostas políticas que apontassem para a construção da sociedade generosa, tão almejada por muitos. Construiu, assim, sua identidade inconfundível entre as legendas partidárias, onde “os filhos da margem sempre tiveram os olhos postos sobre nós”.
Em Campo Grande e em Mato Grosso do Sul, sempre nos apoiando nas experiências e trajetórias de nossos companheiros (as) de outros estados e municípios brasileiros, procuramos construir nosso partido inserindo-nos nas lutas sociais – dos estudantes, sindicalistas, dos trabalhadores rurais, das mulheres, negros e índios, dentre outros – e fazendo a disputa de nosso projeto nos embates eleitorais.
Nunca deixamos de disputar o governo do estado, desde 1982, com o ex-deputado federal Antônio Carlos Oliveira, até a última eleição com o senador Delcídio, passando pelas campanhas vitoriosas com o ex-governador Zeca.
Nunca deixamos de disputar a prefeitura da capital. Mesmo sem nunca ter eleito um prefeito petista em Campo Grande, sempre acumulamos vitórias políticas, construímos uma base social na cidade, elegemos vereadores e pavimentamos nosso caminho para o Parque dos Poderes. Foi assim que crescemos e nos afirmamos no cenário político estadual, disputando eleições e demarcando nossas posições políticas.
Nossa experiência a frente do governo do estado foi um divisor de águas da história político-administrativa sul-mato-grossense. Deixamos para traz, como tristes lembranças, a história de um estado atrasado, conservador, sem planejamento, ineficiente e construímos a marca da retomada do desenvolvimento econômico, do respeito ao funcionalismo público, dos investimentos em infra-estrutura e da inclusão social.
2006. Perdemos as eleições. Faz parte do jogo político ganhar ou perder. Porém, no cenário nacional estamos realizando uma extraordinária experiência administrativa com o presidente Lula, que deve ser motivo de orgulho e motivação para nós petistas e nos levar a reafirmar nosso projeto nas disputas locais.
2008. Mais uma vez a hora é de dialogar com a cidade de Campo Grande. De confrontar nosso projeto de cidade mais humana e solidária com o modelo administrativo das empreiteiras. É um momento de questionar os caros impostos municipais; uma das mais altas tarifas do transporte coletivo, com veículos sujos e superlotados; a deficiência no atendimento dos serviços de saúde. É hora de discutir os vazios urbanos e o conseqüente encarecimento dos instrumentos sociais; a impermeabilização da cidade sem planejamento uma das causas das freqüentes enchentes e o baixíssimo investimento em políticas de inclusão social.
Foi nesta perspectiva que apresentei ao partido meu nome como pré-candidato a prefeito de Campo Grande. Em primeiro lugar, para reafirmar a proposta de candidatura própria do PT nestas eleições. Para dizer ao conjunto do partido que nós construímos um patrimônio político ao longo dos últimos anos e nos tornamos uma alternativa ao pólo político conservador neste estado e na capital.
Deixar de lançar candidato é renunciar ao nosso projeto, negar o direito à população de poder escolher uma proposta alternativa a implantada pelo PMDB há 16 anos em Campo Grande, é perder espaço para nossos adversários políticos, é tornar-se coadjuvante de outros projetos. Talvez seria este o caminho mais fácil ou mais barato, mas com certeza, não o melhor caminho para quem se forjou na luta e nas dificuldades e aprendeu a acalentar sonhos e esperanças.
Nunca tive receio que o PMDB pudesse se recusar a abrir espaço para o PT em uma coligação. O que sempre me preocupou nesta situação é que a base social histórica do PT não entenderia e, o que é pior, não aceitaria uma aliança neste momento com o PMDB.
Para alguns companheiros, a justificativa de aliança com o PMDB é que, no momento, não temos nenhuma candidatura competitiva. Fico pensando, qual eleição em que o PT disputou com candidato competitivo segundo as pesquisas? Que eleição foi fácil para o PT? O que vi em pleitos passados foi candidato favorito, como Pedro Pedrossian, não chegar ao 2º turno e o lanterninha das pesquisas, Zeca do PT, ser eleito governador do estado.
Em segundo lugar, apresentei meu nome ao PT para dialogar com as forças internas do partido. Todos sabem que faço parte de um setor que é minoritário no PT, uma parte da chamada esquerda partidária. Sendo assim, não poderia ser candidato de mim mesmo e nem do meu agrupamento político, mas precisaria necessariamente contar com alianças internas para me tornar candidato do conjunto do PT.
Procurei não ser carimbado como candidato do Zeca e nem do Delcídio. Essa “fulanização” da política despolitiza a sociedade e não contribui, definitivamente, para recolocar o PT onde ele sempre esteve, num dos pólos da disputa pela hegemonia política neste estado. Infelizmente, reconheço que não consegui reunir apoio necessário para representar, não um segmento partidário, mas todo o PT no embate eleitoral e quem sabe, promover a unidade partidária.
Desde o início do processo de escolha de candidatura, sempre me posicionei contra a realização de prévias. Em que pese ser este um instrumento democrático para definição do representante do partido como candidato majoritário, avaliei que seria inevitável o confronto entre os blocos que se articulam em torno das principais lideranças políticas do PT, Zeca e Delcídio, e que o processo deixaria seqüelas que nos levariam enfraquecidos para as eleições.
Firmamos um compromisso político para definir o candidato sem as prévias. Fechamos um acordo. O acordo foi quebrado e as prévias estão marcadas. Sendo assim, deixo de me inscrever para a disputa para não contribuir com o aprofundamento da divisão interna do PT.
Meus sinceros agradecimentos aos companheiros (as) da Articulação de Esquerda e de outros agrupamentos políticos do PT que me incentivaram até aqui. Minha gratidão, em especial, ao deputado Paulo Duarte pelo companheirismo e solidariedade em todos os momentos. Fica meu compromisso junto a vocês de continuar honrando com nossa fidelidade à história e aos princípios abraçados pelo PT.
Conclamo os meus companheiros à responsabilidade para com o nosso projeto coletivo, ao esforço de reconquista da unidade interna e ao compromisso com o futuro do PT. Aos que já enrolaram suas bandeiras, digo que ainda somos a referência para muitos homens e mulheres que acreditam na política partidária como instrumento de transformação e de elevação do nível de vida das maiorias.
Reafirmo minha posição de candidatura própria que seja capaz de unificar o partido, de estimular nossa militância e de dialogar com a cidade sobre nossas propostas. Uma candidatura que possa aglutinar um bloco de oposição em Campo Grande e que aponte para uma alternativa administrativa de participação popular, de desenvolvimento econômico com inclusão social.
Para estes grandes e nobres desafios, que estão muito acima de nossos projetos e ambições pessoais, possa o PT contar sempre comigo.
Pedro Kemp
05/05/2008
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