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Com quase 2 milhões de pessoas, parada gay bate recorde em SP

jun 2, 2005 | Geral

Drag queens produzidas, cibermanos, moderninhos, adolescentes, famílias com crianças pequenas, casais hetero e homossexuais, travestis, vendedores ambulantes, catadores de latinha e até membros da igreja Renascer à caça de fiéis lotaram as avenidas Paulista e Consolação no domingo para acompanhar aquela que é a maior festa gay do mundo.

Quase 2 milhões de pessoas dançaram ao som de 24 trios elétricos, desfilando pelas duas avenidas, segundo informações da Polícia Militar divulgadas às 19h de domingo. O número final da PM, no entanto, ficou em 1,8 milhão de participantes e o dos organizadores, em 2,5 milhões de pessoas.

Isso é mais que o dobro do público que comparece aos desfiles das cidades de São Francisco, nos EUA, e Toronto, no Canadá, cotadas entre as maiores do mundo e que atraem aproximadamente um milhão de participantes cada.

Em São Paulo, a concentração começou por volta das 11h e teve direito a discurso de menos de 20 minutos do prefeito da capital José Serra (PSDB). Os 24 carros iniciaram o desfile por volta das 14h30. No primeiro deles, um arco-íris de balões de gás com as cores da bandeira do movimento gay prenunciava a mistura de política e diversão que tomaria conta da rua nas horas seguintes.

“O Brasil está cansado de preconceito. Viva a liberdade, nós somos milhões”, gritava do alto de um trio o vice-presidente da ONG que cuidou do evento, o arquiteto Renato Baldin. Ao som de músicas da era disco, como as do grupo Village People, ele incitava a multidão “Quem é gay aqui levanta a mão”! O público respondia levantando os braços para o alto e dançando ainda mais.

EM FAMÍLIA

Entre um carro e outro, famílias com seus filhos pequenos, senhoras acompanhadas de amigas, casais e jovens em geral caminhavam pelas ruas e pediam para tirar fotos com as drag queens.

“Queremos que nossa filha cresça sem preconceito”, dizia o publicitário Luiz Carlos Silva, 37, acompanhado da filha Luiza, de 3 anos, e da mulher, a psicóloga Andréa Vistue, 39. “Quando eu vim pela primeira vez estava grávida de Luiza. Desde então, venho todos os anos”, comentou ela.

Drags encarnando personagens de Chapeuzinho Vermelho, Pantera Cor-de-Rosa, Branca de Neve e até a noiva de Chuck, o boneco assassino, apareceram por lá. Perto da rua Haddock Lobo, uma dupla formada por uma drag vestida de dama antiga e outra encarnando a Nega Maluca fazia sucesso e posava para as câmeras.

“Até o ano passado eu só encarnava personagens infantis,” disse a drag Giva Sunflower, 30, que mora no centro da cidade e trabalha como comerciante. “Acho que as pessoas estão saturadas de mostrar o corpo. A Parada é para expressar a fantasia, por isso escolhi vir (coberta de roupa) este ano.”

A seu lado, o funcionário público municipal Antônio Gomes, 40, recorre todos os anos à mesma produção. Corpo pintado de negro, vestido de bolinhas e uma fita vermelha na peruca encaracolada definem seu visual.

“No meu trabalho, todo mundo sabe que sou drag e me respeita. Acho que a Parada tem ajudado as pessoas a terem respeito pela diversidade”, disse.

Além de promover a causa, a Parada deste ano tem por objetivo chamar a atenção para o projeto parado há 10 anos no Congresso Nacional que aborda os direitos civis dos homossexuais. O objetivo do grupo é reunir 1,2 milhão de assinaturas até novembro para obrigar os parlamentares a colocar o assunto da parceria civil registrada na pauta de votações, e discutir questões como separação de bens, Imposto de Renda, seguro de vida, saúde e previdência para esse grupo social.

Embora não haja estimativas oficiais, a ONG Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) divulga em seu comunicado oficial que a população homossexual no país chega a 10 por cento do total de habitantes, ou algo em torno de 17 milhões de pessoas.

SAGRADO E PROFANO

Um pequeno grupo de jovens da igreja Renascer, que realizou uma marcha por Jesus na mesma avenida Paulista durante a semana, buscava arrecadar fundos para a igreja vendendo brigadeiros, que carregava numa bandeja de papel.

Vindo do Jardim Almanara, na zona norte da cidade, Rodrigo Pereira dos Santos, 25, tentava bater o objetivo de arrecadar com seus amigos 1.000 reais com a venda de docinhos até o fim do dia. “Aceitamos o desafio da igreja de arrecadar esse dinheiro”, disse. Sobre a postura da Renascer a respeito do homossexualismo, ele disse: “a igreja aceita todo mundo, porque a gente acredita que Jesus pode transformar as pessoas.”

No outro lado da avenida, ao som de música tecno, o clima estava mais para o profano que para o sagrado, com uma multidão dançando animada, vários travestis desfilando em trajes sumários, homens sem camisa e beijação pontual de homem com homem e mulher com mulher.

No posto policial instalado no fim da avenida Paulista, nenhuma ocorrência grave havia sido registrada até o início da noite. Nos postos médicos, até as 20h, sete pessoas haviam sido encaminhadas para hospitais. A maioria dos casos era ligada ao abuso de álcool e drogas, informou o atendente de um dos postos. O caso mais grave foi o de uma pessoa que caiu no vão do túnel que liga a avenida Doutor Arnaldo à Paulista, que sofreu fraturas e foi encaminhada ao Hospital das Clínicas.

admin
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