E o mundo vai ser uma flor, brotar do impossível chão”. No verso de Chico Buarque, que narra uma das fotos em exposição no saguão da Assembléia Legislativa, está retratada a esperança em dias melhores, de igualdade de direitos, como preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 60 anos nesta quarta-feira (10/12).
Esta “jovem senhora”, que nasceu no pós-guerra, em Paris, reúne, em 30 artigos, os direitos fundamentais que devem ser assegurados a todo cidadão. É o documento mais traduzido no mundo – 337 idiomas.
Para quem já foi ou é vítima de discriminação e preconceito, a Declaração tem importância singular. “Fui discriminada muitas vezes, chamada de macaca chita aos nove anos de idade, mas desde que me dou conta estou na luta pelos direitos humanos”, afirma Raimunda Luzia de Brito, advogada, mestre em Serviço Social e doutoranda em Ciências da Educação, que comanda a Coordenadoria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso do Sul.
Raimunda foi uma das 11 pessoas homenageadas com a medalha Ricardo Brandão de Direitos Humanos, durante sessão solene, nesta quarta-feira. Proposta pelo deputado estadual Pedro Kemp (PT), o evento contou com apresentações culturais de capoeira, música e a benção de “rezadores” indígenas. Ao som de “Ordem e Progresso”, na voz de Beth Carvalho, quem assistia à solenidade nas galerias do Plenário Júlio Maia ajudou a desenrolar uma bandeira com o dizeres “Direitos Humanos”.
INCENTIVO – Para a professora Teodora de Souza, membro do Movimento dos Professores Kaiowá Guarani, a medalha Ricardo Brandão representa reconhecimento. “É um importante incentivo para todos nós, que enfrentamos muitas dificuldades diárias”, disse.
O movimento foi criado em 1991 e tem como objetivo planejar, acompanhar, executar e avaliar as ações, bem como as políticas de educação escolar indígena. Segundo Teodora, já foram capacitados em educação indígena cerca de 350 professores. Somente na região de Dourados, há três mil alunos indígenas, que são alfabetizados na língua-mãe e em português.
Para a professora, o grande desafio agora é assegurar material didático específico, que possibilitará a identificação entre os alunos e, consequentemente, a valorização da cultura e dos costumes. “Já avançamos, com certeza; mas a luta continua”, afirmou.
0 comentários