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Pedro Kemp apoia protesto indígena contra ruralista à frente da Funai

nov 17, 2016 | Em destaque | 0 Comentários

Sobre a nomeação do militar, indígenas afirmam ao Ministério da Justiça: “é uma afronta à memória genocida de nossos povos”

O deputado estadual Pedro Kemp (PT-MS)pronuncio-se em favor do protesto indígena que já dura sete dias na sede da Funai(Fundação Nacional do Índio), em Campo Grande. Os índios são contra a nomeação feita pelo governo golpista Michel Temer, que oficializou o coronel do Exército Renato Sant’Anna, para a coordenação regional de Campo Grande da Fundação Nacional do Índio.

Na quarta-feira (16/11), o deputado Pedro Kemp participou da 9ª Assembleia do Povo Terena, na Aldeia Bananal em Aquidauana (MS). Lá, segundo o parlamentar, os indígenas se posicionaram com indignação contra a nomeação do novo servidor. Para Kemp, a autonomia das comunidades deve ser respeitada. “Colocar um coronel que também é proprietário rural é no mínimo inusitado. Com isso, os indígenas ocuparam a Funai, pois consideraram uma falta de respeito. Foi uma revolta”, disse.

Kemp considerou preocupante um grupo formado por índios ter se reunido com o coronel sem que antes, tivesse ouvido a comunidade. O parlamentar afirma que após a CPI do CIMI, forças políticas ruralistas teriam se aproximado dos indígenas com o intuito de dividi-los e enfraquecer a luta de todos pela terra. O assunto foi debatido em Aquidauana pelas lideranças, relatou.

A Assembleia do Povo Terena tem como objetivo geral congregar os caciques, lideranças de retomadas, rezadores, mulheres e a juventude indígena em torno da luta pelo território tradicional. A reunião teve como pauta temas como a educação escolar indígena, sustentabilidade e meio ambiente, saúde nas comunidades e políticas públicas em geral que são afetas as comunidades indígenas.

Durante a Assembleia Terena aconteceu o “II Encontro de pesquisadores indígenas com suas lideranças” destinado ao estudante, pesquisador e profissional indígena que deseja apresentar para as lideranças sua pesquisa e trabalhos realizados na universidade.
O Conselho do Povo Terena é organização tradicional indígena formado por lideranças indígenas que nos últimos anos fizeram o enfrentamento na luta pela demarcação de terras indígenas. Além das grandes assembleias, o Conselho Terena tem atuado na defesa judicial dos direitos dos povos indígenas.

O Conselho do Povo Terena integra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB e tem assento na Organização das Nações Unidas – ONU.

A nomeação

Durante uma semana de muita mobilização, os povos indígenas foram surpreendidos na quinta-feira (10) pela nomeação do coronel reformado do Exército Renato Vida Sant’Anna para a coordenação regional da Funai em Campo Grande. Além de militar, Sant’Anna é fazendeiro e sua nomeação foi apoiada pelos ruralistas do estado, onde há uma das situações mais agudas de violência contra indígenas. O MPF (Ministério Público Federal) investiga casos de formação de milícias e pistolagem no Estado.

No mesmo dia, indígenas do povo Terena ocuparam a sede da Funai em Campo Grande, responsável pelo atendimento das terras indígenas Água Limpa, Buriti, Buritizinho, Cachoeirinha, Guató, Kadiwéu, Lalima, Limão Verde, Nioaque, Nossa Senhora de Fátima, Ofayé-Xavante, Pilad Rebuá e Taunay/Ipegue.

Na sexta (11), lideranças de várias etnias  entregaram uma carta direcionada ao Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, repudiando a militarização da Funai e exigindo a imediata revogação da medida que nomeou o coronel Sant’Anna e a recondução do coordenador anterior.

Assinaram a carta os povos Avá Canoeiro, Krahô, Xerente e Apinayé, do Tocantins, Aikana, Cassupá, Puruburá, Migueleno, Kujubin, Wayoro, Sakyrabiat, Karitiana, Mamaidê-Nambikuara, Uru Eo, Guarasugne, Cabixi e Kwaza, de Rondônia, e Guarani Kaiowa, Guarani Nhandeva, Terena e Kinikinau, do Mato Grosso do Sul,

No documento, entregue durante um ato em frente ao Ministério da Justiça (MJ), em Brasília (DF), os indígenas afirmam que a nomeação do coronel “é uma afronta à memória genocida de nossos povos”.

“Se não bastasse essa realidade de militarização genocida, o nomeado é flagrantemente um RURALISTA, comemorado pelas entidades de Classe no Mato Grosso do Sul, e isto é INADMISSÍVEL E INTOLERÁVEL. Trata-se de uma grave violência ética contra o sangue derramado de nossos povos em conflitos Brasil afora”, continua a carta, criticando a nova tentativa de militarização da Funai no contexto do governo Temer.

A medida causou indignação entre povos indígenas do Brasil inteiro “Chega de tutela, chega de autoritarismo”, criticam as lideranças na carta publicada no site do CIMI.

 

Jacqueline Lopes com colaboração da AL/MS e CIMI.

Jacqueline Bezerra Lopes
Jacqueline Bezerra Lopes

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