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Fórum Mundial discute educação e desigualdades sociais

abr 10, 2003 | Geral

A exclusão social nas áreas do saber, do conhecimento e, sobretudo, em educação foram os temas abordados pelos especialistas do painel Cidade Educadora e as Desigualdades Sociais, que fez parte da programação do Fórum Mundial de Educação-São Paulo, de 1º a 4 de abril. Participaram do painel os educadores Emir Sales, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sueli Carneiro, diretora do Geledés–Instituto da Mulher Negra, e Ladislau Dowbor, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Professor de Sociologia e coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, Emir Sales disse que a pobreza é essencialmente urbana. “As grandes cidades são espaços excludentes”, afirmou. O professor analisou os Centros Educacionais Unificados (Ceus) – centros comunitários com equipamentos de educação, cultura e esporte, como teatros, telecentros, bibliotecas e quadras esportivas, que poderão ser usados pela comunidade local –, que vão criar mais de 50 mil vagas na rede municipal de ensino paulistana. “Os Ceus são o maior exemplo de inclusão social, porém um espaço a ser disputado pelo narcotráfico, as artes, as ciências e o conhecimento”, frisou. Ele acrescentou, ainda, que os shoppings centers são, hoje, a representação máxima do capitalismo do século XXI e o símbolo da exclusão social nos grandes centros urbanos. “Nesses lugares, tudo é individualizado e elitizado”, disse.

Origem afro – Recorrendo aos seus sete anos de experiência na África, Ladislau Dowbor mostrou-se indignado com o fato de não ser ensinada sistematicamente, no Brasil, a imensa herança cultural do povo africano. “Sobretudo porque 45% da população brasileira tem origem afro”, salientou Ladislau, que é doutor em Ciências Econômicas e consultor de várias agências da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também falou sobre reforma agrária.

Em sua opinião, da crescente tensão das cidades, só se pode concluir o óbvio: a reforma agrária não é mais um problema rural, é uma questão-chave da problemática urbana. Outra idéia defendida é a de que o ensino superior seja profundamente revisto. “Em termos de cronologia do ensino, este espaço deveria ultrapassar o seu formato fechado, de licenciatura em quatro ou cinco anos, para se abrir a ciclos de atualização científica do estudante de qualquer idade”, completou.

Pós-graduada em Filosofia da Educação, Sueli Carneiro recorreu a pesquisas, estudos e publicações sobre discriminação e preconceito racial. Um dos exemplos usados por ela foi o trabalho da arquiteta e urbanista Raquel Rolnik sobre as relações historicamente constituídas entre a população negra e os territórios brasileiros. Raquel Rolnik traça os espaços e os procedimentos que demonstram que, ao longo da história, a subjetividade negra educa para a subalternidade ou marginalidade social. “A educação ocupa um lugar privilegiado, pelo peso decisivo que tem sobre as chances de integração do indivíduo, sua capacidade de mobilidade e ascensão social”, afirmou.

Projeto – Sueli Carneiro também divulgou o projeto Geração XXI, desenvolvido em São Paulo pelo Banco de Boston em parceria com o Geledés e a Fundação Cultural Palmares. Seu objetivo é assegurar a 21 adolescentes negros, de famílias com renda entre um e dois salários mínimos, oriundos de escolas públicas e com bons históricos escolares, a possibilidade de formação na carreira que escolherem. O projeto terá a duração de nove anos e acompanhará os adolescentes até a universidade. Serão oferecidos, também, cursos de capacitação em língua estrangeira, computação, formação cidadã, seguro-saúde e alimentação, além de auxílio para que as famílias mantenham os jovens na escola. A experiência-modelo quer sensibilizar outras empresas a incluir a igualdade social entre as suas responsabilidades sociais.

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