Com a estimativa de instalação de cerca 60 novas usinas no Estado nos próximo anos e geração de milhares de empregos diretos e indiretos, a produção de biocombustíveis em Mato Grosso do Sul promete mexer com a economia regional. No entanto, a poucos dias da data alusiva ao dia do trabalhador, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) faz um alerta sobre boom da produção de açúcar e álcool no Estado.
Coordenadora do Projeto Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Andréa Bolzon afirma que a organização tem acompanhado com preocupação a expansão do setor em Mato Grosso do Sul. De acordo com ela, a OIT não define como incompatível o crescimento desta atividade e o trabalho decente, mas faz ressalvas ao processo de instalação que vem ocorrendo no Estado. “De fato as pessoas de Mato Grosso do Sul precisam estar muito atentas com essa atividade”, enfatiza, lembrando da celeridade que Mato Grosso do Sul tem dado quando o assunto é implantação de novas usinas.
Em Goiás, que recentemente viveu o processo da atividade sucroalcooleira, conta Andréa Bolzon, os impactos sociais foram graves. “Observamos maior ocorrência de gravidez na adolescência, assim como um aumento nos casos de exploração sexual de crianças e adolescentes”, destaca.
Mato Grosso do Sul já é hoje o segundo estado do país em casos de libertação de trabalhadores que se encontravam em situação de escravidão. O Pará lidera o ranking nacional. Somente no ano passado, foram libertados 1.779 sul-mato-grossenses que se encontravam em condições degradantes de trabalho, o que fez o estado aumentar em mais de 5.500% o número de ocorrências, se comparado a 2006. Conforme o Ministério do Trabalho, as áreas de plantio de cana-de-açúcar e carvoarias são os locais onde existem mais registros.
Para a OIT, o governo precisa ter cautela e criar critérios que possam garantir, com a implantação de novas usinas, o trabalho decente. “Neste momento, é necessária muita responsabilidade com este assunto. É muito perigoso, por exemplo, esse tom de deslumbramento, gerado pela expansão do setor”, explica.
Andréa Bolzon é uma das convidadas para a Audiência Pública “MS pelo Trabalho Digno”, de autoria do deputado Pedro Kemp. O debate acontece na Assembléia Legislativa na próxima terça-feira, 29, às 13h30. Além da OIT, participam representantes do MPT (Ministério Público do Trabalho), da CUT (Central Única dos Trabalhadores), da DRT (Delegacia Regional do Trabalho), CIMI (Comissão Indigenista Missionário) e Marcha Mundial de Mulheres.
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