Luciana Valle
Brasília – O último dia do 10º Grito da Terra, promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) foi marcado por protestos. Em marcha pela Esplanada dos Ministérios, trabalhadores rurais empunharam faixas pretas que traziam os nomes de companheiros mortos no campo, cujos crimes permanecem impunes.
Diante do Supremo Tribunal Federal (STF), os manifestantes pediram uma ação mais incisiva da Justiça na apuração das mortes de 1.304 trabalhadores rurais assassinados desde 1985, representados na passeata por uma faixa intitulada \”vítimas do latifúndio\”. Cerca de 40 dirigentes sindicais do Norte do país entregaram no STF um documento pedindo proteção do Judiciário para agricultores ameaçados de morte, principalmente nos estados do Pará e Tocantins.
O caso de maior repercussão foi o assassinato, há 20 anos, de Margarida Maria Alves, à época presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Grande, na Paraíba. Ela foi morta em casa, a mando do usineiro Zito Buarque, segundo informações do presidente da Contag, Manoel dos Santos. O pistoleiro contratado confessou o crime, mas passados 20 anos sem julgamento, o processo prescreveu.
Os manifestantes também pediram proteção para vítimas da violência no campo. Os trabalhadores sofrem expulsões, prisões, despejos e ameaças de morte de latifundiários. Segundo Manoel dos Santos, o trabalho da polícia muitas vezes resulta em investigações e até prisões, mas o Judiciário quase sempre absolve os culpados. \”Nós tivemos casos de vários elementos considerados pela polícia criminosos e que foram soltos pela Justiça\”, afirmou.
Segundo o dirigente da Contag, o Pará é o líder no país em número de assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Já o Mato Grosso está na liderança dos casos de violência, que incluem prostituição infantil e abuso sexual praticado contra mulheres no campo. A região Centro-Oeste, que vem se destacando na expansão do agronegócio brasileiro, também é motivo de preocupação para a Contag, registrando aumento da violência contra os pequenos agricultores.
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