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Mercado paga mais a branco que a negro

jun 26, 2003 | Geral

 

A melhoria da escolaridade da população negra e parda no Brasil não é suficiente para acabar com a desigualdade racial no mercado de trabalho. A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada ontem, mostra que negros e pardos têm renda média menor que a dos brancos, mesmo quando são comparados grupos com o mesmo nível de escolaridade. Os números do IBGE mostram que, quanto mais tempo uma pessoa estuda, maior é seu rendimento médio. Esse acréscimo na renda, no entanto, acontece de maneira diferenciada para brancos, negros e pardos.

Um negro ou pardo com até quatro anos de estudos completos (chegou, no máximo, à 4ª série) recebe em média, por cada hora de seu trabalho, R$ 1,50. Um trabalhador branco com essa mesma escolaridade tem rendimento melhor: R$ 2,30 por hora trabalhada. A diferença a favor dos brancos aumenta em valores absolutos e permanece praticamente inalterada em termos relativos quando se compara a renda de trabalhadores com mais escolaridade.

Com nove a 11 anos de estudo, a média de rendimento do negro ou pardo é de R$ 3,10 para cada hora de trabalho. Entre os brancos, esse rendimento é de R$ 4,40. Entre os trabalhadores que conseguem, ao menos, estudar um ano no ensino superior (12 anos ou mais de estudo), negros e pardos ganham em média R$ 8,30 por cada hora do seu trabalho, contra R$ 11,80 dos brancos.

Para o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Sergei Soares, autor de um estudo sobre desigualdade racial, os efeitos do preconceito não começam no mercado de trabalho: “Um terço da discriminação ocorre hoje, no mercado de trabalho, mas dois terços vêm do passado, quando houve discriminação na escola e contra as gerações passadas”. O economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, concorda: “Não basta dizer ao empregador que pare de discriminar para que se chegue à igualdade. O grosso do diferencial a favor dos brancos ainda se deve ao fato de eles terem entrado no mercado de trabalho em uma condição melhor”.

Para Urani, o preconceito no mercado é mais evidente entre os trabalhadores com menor escolaridade: “A qualidade da educação no ensino superior pode variar muito e isso pode interferir no rendimento do trabalhador no mercado. Entre os que não completaram quatro anos de estudo, no entanto, faz pouca diferença. Nesse caso, é inegável que o preconceito é a principal explicação”.

Para o pesquisador Marcelo Paixão, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a expectativa que os próprios trabalhadores têm do seu potencial também são fatores que podem explicar essa situação.

“Um negro com quatro anos de estudo pode achar que não é capaz de trabalhar numa fábrica e acaba procurando emprego como faxineiro, por achar que sua cor pode ser mal vista ou mal aceita. É uma expectativa de preconceito”, diz.

Como resultado da discriminação sofrida ao longo dos anos, a Síntese mostra que, em 2001, 87,2% dos brasileiros que pertenciam ao 1% mais rico da população eram brancos. Entre os brasileiros incluídos entre os 10% mais pobres, 67,3% deles eram negros ou pardos. No total da população, 53,4% se declararam brancos, 5,6%, negros e 40,4%, pardos.

Gênero

O mercado de trabalho discrimina também as mulheres, que na última década já passaram os homens nos indicadores de escolaridade média. Essa melhor situação feminina na educação, no entanto, ainda não se refletiu no mercado. O rendimento médio da população ocupada feminina também é inferior ao da masculina, mesmo quando se comparam grupos com mesma escolaridade.

Além de ganharem menos, 82,3% das mulheres em idade ativa (25 a 29 anos) têm ao menos um filho, o que as obriga a uma dupla jornada de trabalho.

No entanto, os pesquisadores do IBGE afirmam que a desigualdade no rendimento das mulheres, em relação ao dos homens, vem diminuindo nos últimos 30 anos, fato que não ocorre de maneira significativa na comparação entre negros, pardos e brancos.

Fonte: Folha de São Paulo. Publicado em 13.06.2003.

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