O deputado estadual Pedro Kemp (PT-MS) foi à tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, e fez pronunciamento sobre as reivindicações dos profissionais da Educação (professores e administrativos). Eles lotaram o plenário da Casa de Leis e pediram a antecipação do reajuste salarial para maio, junto com os demais servidores, conforme o Projeto de Lei 110/2023, de autoria do Poder Executivo, que propôs 5% de reajuste aos servidores estaduais, não incluindo os professores.
“A data base dos professores é em outubro, mas a antecipação que eles pedem é completamente justa e possível de ser atendida. Estamos aqui fazendo um apelo para que o Governo reveja sua decisão e altere o projeto. Além disso, a injustiça da desigualdade salarial entre professores efetivos e convocados precisa ser corrigida. Hoje os convocados recebem em torno de 70% a menos. Quero lembrar que na campanha para governo, o governador eleito Eduardo Riedel assinou compromisso pela valorização e hoje ele tem uma reunião com a categoria, pela tarde, que eu espero que seja produtiva e enviem a inclusão dos professores”, explicou Pedro Kemp.
Imagens aéreas feitas pelo SOS Pantanal mostram terra arrasada na área que compreende a maior planície alagada do mundo, no território sul-mato-grossense.
O deputado estadual Pedro Kemp (PT-MS) denunciou hoje, na tribuna da Assembleia Legislativa de MS, o risco do avanço do plantio de soja no Pantanal e alertou a todos sobre a questão ambiental, no Estado. Um requerimento foi endereçado ao Ministério Público Estadual para que investigue e tome providências. O parlamentar enfatizou sobre a importância de discutir o problema no Estado, mas caso não seja resolvido, o Ministério do Meio Ambiente através da ministra Marina Silva serão acionados juntamente com a Comissão de Meio Ambiente do Congresso Nacional, alertou. “A preservação do Meio Ambiente não é uma questão menor e secundária, nem superficial. Hoje as lideranças de todos os países estão preocupadas com as mudanças climáticas no planeta. Medidas urgentes precisam ser tomadas pelos países em âmbito internacional para proteger e entregar um meio ambiente protegido as futuras gerações”, disse.
“Nós pegamos emprestado o Meio Ambiente dos nossos filhos e netos, como diz a sabedoria indígena. Se há preocupação mundial, nós temos que fazer nossa parte nesse contexto, somos privilegiados em recursos naturais, temos dois terços do Pantanal e uma responsabilidade a mais em proteger este bioma que já está ameaçado”, explicou o parlamentar.
O parlamentar apresentou nesta manhã o requerimento solicitando medidas urgentes para apurar as responsabilidades referente ao desmatamento e cultivo da monocultura, especialmente da soja, em área da planície pantaneira. “Conforme encaminhado por entidades da sociedade civil organizada que atuam na defesa do meio ambiente e no desenvolvimento de pesquisas científicas no bioma pantaneiro, já é realidade que propriedades privadas burlam a legislação de proteção ambiental e executam o desmatamento e a expansão da monocultura em áreas protegidas”.
No Plenário Júlio Maia, estavam presentes organizações não governamentais, alunos do curso de Biologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e a sociedade civil. “Agradeço à presença de Felipe Augusto Dias, diretor-executivo da SOS Pantanal, da Professora Edna Dias, da UFMS e do aluno Eduardo, do Centro Acadêmico de Biologia. Também pelas demais pessoas e acadêmicos que acompanham a nossa sessão”, disse o deputado Pedro Kemp.
“Apresentei matéria, elaborada por Amarildo Cruz, que dispõe sobre a preservação e proteção do Pantanal Sul-mato-grossense, visando conter o avanço da abertura de novas lavouras destinadas ao cultivo de monoculturas na região. O projeto foi considerado inconstitucional pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação [CCJR], por conter vício de iniciativa. Faço um apelo à CCJR, e aos 23 deputados. Nós precisamos retomar esse debate, não podemos arquivar essa discussão, é necessário levar adiante um disciplinamento dessa Casa de Leis sobre o assunto, pensar numa propositura coletiva, e disciplinar o plantio dessas monoculturas no Pantanal. O Mato Grosso já fez isso e aprovou uma lei proibindo o plantio de soja e cana no Pantanal, uma região alagável, despejo de agrotóxicos e produtos químicos, não podemos concordar com arquivamento desse projeto, e sim uma discussão para aprofundar esse assunto. Defesa do meio ambiente é defesa da vida, da biodiversidade”.
Parlamentar do PT-MS aponta pesquisa científica que responsabiliza grupos nazistas em recrutamento de jovens na deep web
“Grupos extremistas de direita influenciam meninos com perfil psicológico violento e que buscam notoriedade. Por isso, é preciso derrubar contas e plataformas de grupos neonazistas que seduzem os jovens para a prática de ataques e massacres.São urgentes as medidas de inteligência para detectar grupos que aliciam jovens extremistas e o oferecimento de tratamento psicológico aos alunos que necessitam de atendimento especializado. A pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revela que jovens são cooptados por células neonazistas no país. É claro que também se faz importante a ação da segurança”, disse o deputado estadual Pedro Kemp (PT-MS), na sessão ordinária da Assembleia Legislativa, hoje (12). O artigo “A Banalidade do Mal”, publicado no www.semanaon.com.br, trouxe à tona um das principais causas do problema, de acordo com cientistas.
Assista o pronunciamento do deputado estadual Pedro Kemp:
https://youtu.be/TYLqe58DZK0
Eis o texto “A Banalidade do Mal”:
Há doze anos, um jovem de 23 anos invadiu a escola onde havia estudado no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, e produziu um massacre que chocou o país: armado com dois revólveres, ele disparou contra os alunos, matando doze deles e cometendo suicídio em seguida. Na época, o episódio assustador foi tratado pela imprensa como de fato era até então: algo fora do comum no Brasil. Há alguns anos, no entanto, a ocorrência de diversos casos similares tem exigido atenção das autoridades e gerado preocupação em pesquisadores, que apontam caminhos para enfrentar esse cenário.
Anteontem (5) uma creche em Blumenau se tornou alvo de um homem de 25 anos que tirou a vida de quatro crianças. Nesse caso, investigações preliminares não apontaram nenhum vínculo do agressor com a instituição. Há menos de dez dias, outro ataque causou uma morte e deixou cinco pessoas feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. O crime foi cometido por um de seus alunos, de 13 anos.
Nos últimos anos, outros episódios similares que tiveram grande repercussão no país também foram promovidos por estudantes ou ex-estudantes, como os registrados em Aracruz (ES) no ano passado e em Suzano (SP) em 2019.
Ataques pelo país
De acordo com mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, o primeiro episódio foi registrado em 2002. À época, um adolescente de 17 anos disparou contra duas colegas dentro da sala de aula de uma escola particular de Salvador. O levantamento da Unicamp deixa de fora episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga.
Foram listadas 22 ocorrências desde 2002, sendo que em uma ocasião o ataque envolveu duas escolas. Em três episódios, o crime foi cometido em dupla. Em cinco, os atiradores se suicidaram na sequência. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, cinco professores e dois funcionários das escolas.
Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos.
Extremismo de direita
A preocupação com a situação levou o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, a coordenar a criação de um grupo formado por 11 pesquisadores de universidades de diversos estados do país. No final do ano passado, eles elaboraram um documento analisando o cenário e propondo estratégias concretas para a ação governamental.
Segundo os pesquisadores, esses casos devem ser classificados como extremismo de direita, pois envolvem cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. Esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e que encoraja direta e indiretamente atos agressivos e violentos. Para os pesquisadores, medidas de prevenção só serão eficazes se atuarem sobre esse cenário.
“É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais”, registra o documento.
A presença de símbolos associados a ideologias de extrema-direita tem sido recorrente nestes atos violentos. O autor de um ataque realizado em fevereiro deste ano com bombas caseiras em uma escola em Monte Mor (SP), que não resultou em mortos ou feridos, vestia uma braçadeira com a suástica nazista. Artigo similar foi usado no massacre que deixou quatro mortos e diversos feridos em duas escolas de Aracruz em novembro do ano passado. O jovem responsável pelo episódio de violência usava sobre a manga de sua roupa camuflada uma braçadeira com um emblema que era usado por nazistas alemães.
Siege mask
No recente ataque registrado na Vila Sônia, em São Paulo, assim como no de Aracruz no ano passado, o autor vestia ainda uma máscara de esqueleto. Usada pelo personagem Ghost da franquia de jogos Call Of Duty, ela é conhecida como siege mask e se popularizou em fóruns de gamers extremistas para depois se tornar um aparato de identificação de simpatizantes neonazistas em todo o mundo. É hoje uma marca em atos da extrema-direita.
Ela aparece, por exemplo, em janeiro de 2021 na invasão do Capitólio, edifício que abriga o Congresso dos Estados Unidos, por uma multidão descontente com a derrota do ex-presidente Donald Trump nas eleições presidenciais do país. Esteve presente também nos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro desse ano. Imagens de câmeras de segurança captaram a imagem de um homem utilizando a máscara em meio ao grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que depredaram o Palácio do Planalto e defendiam uma intervenção militar para depor o recém-iniciado governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo sustentam alguns pesquisadores, a siege mask foi adotada por grupos de extrema-direita por suas semelhanças com a caveira que era usada como emblema pela Totenkopf, uma divisão da SS, organização paramilitar ligada ao Partido Nazista que atuou diretamente no Holocausto. Essa máscara também está associada com o massacre realizado por uma dupla que deixou oito mortos em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano. Um dos responsáveis pelo crime a utilizava em fotos compartilhadas nas redes sociais.
“Sensação de pertencimento”
A educadora Telma Vinha, coordenadora da pesquisa realizada pela Unicamp, observa que há um perfil mais frequente entre os autores dos ataques: homens jovens brancos geralmente com baixa autoestima e sem popularidade na escola. “Não são populares na turma. Eles têm muitas relações virtuais, mas não tanto presenciais. E nutrem uma falta de perspectiva, de propósito em termos de futuro”, pontuou em entrevista levada ao ar no dia 30 de março pela TV Unicamp.
A pesquisadora também afirma ser comum a existência de transtornos mentais não diagnosticados ou sem o devido acompanhamento. Esses quadros podem se desenvolver ou se agravar pela dificuldade de relacionamento nas escolas, o que pode ocorrer, por exemplo, com os que são alvos de bullying. Alguns também vivem situações prolongadas de exposição a processos violentos em casa, incluindo negligências familiares e autoritarismo parental, o que contribuem para desenvolver um perfil de agressividade no âmbito doméstico.
Telma observa que a cooptação tem ocorrido por meio de jogos online, onde há chats paralelos. Dali, se deslocam para fóruns e redes sociais onde há incentivo de violência e discursos misóginos e racistas. No ambiente virtual, esses jovens podem experimentar uma sensação de pertencimento a um grupo que não possuem na escola. O crescimento dos ataques também tem sido relacionado como um possível desdobramentos da pandemia de covid-19. Isso porque o consumo de jogos eletrônicos cresceu durante os períodos de isolamento social, o que deixaria os jovens mais expostos à cooptação por grupos que propagam discursos de ódio.
Segundo a educadora, na maioria das vezes, não se tratam de crimes passionais, motivados unicamente por vingança ou raiva desencadeada por um tratamento recebido. Os autores planejam fazer o maior número de vítimas, pois têm como objetivo a busca por notoriedade pública e reconhecimento da comunidade virtual.
“Mesmo agindo de forma isolada, acreditam que fazem parte de um movimento, se sentem parte de algo maior”, explica.
Ela também ressalta que o Brasil não está vivendo um fenômeno isolado, mas que casos com características muito similares também estão sendo registrados em outros países.
Nos Estados Unidos, onde massacres produzidos por jovens em escolas ocorrem há mais tempo e com mais frequência, um levantamento realizado pelo jornal Washington Post mapeou 377 incidentes desde 1999. Considerando somente 2021 e 2022, foram 88, quase um quarto do total.
No Brasil, de acordo com o mapeamento da Unicamp, os ataques registrados desde 2002 aconteceram em 19 escolas públicas, entre estaduais e municipais, e em quatro particulares. Segundo Telma, os perfis das instituições são distintos. Por isso, não há razão para responsabilizá-las. Ela conta que já conheceu professores que se perguntavam se fizeram algo de errado.
“Não há nada que explique porque aconteceu em determinada escola e não em outra. Pode acontecer em qualquer lugar. Tem escolas localizadas em regiões mais violentas dos que as que foram atacadas. Ataques ocorrem em escolas com diferentes níveis de estrutura”, pondera.
A banalidade do mal
Apela-se à filósofa alemã Hannah Arendt sempre que um ato maligno choca a todos por sua brutalidade e carece de explicação para ser entendido, o que não significa normalizado.
Foi ao escrever sobre o julgamento do oficial nazista Otto Adolf Eichmann”, um dos organizadores do Holocausto, que ela cunhou uma expressão que ficaria famosa – a “banalização do mal”.
Arendt concluiu que o mal praticado por ele não era demoníaco, mas um mal constante, parte da rotina dos oficiais nazistas como instrumento de trabalho. Ele cumpria ordens.
Durante o julgamento que o condenaria a morrer enforcado, Eichmann dizia, e de fato acreditava, que seguia o certo, o governo e as leis do Estado, e que por isso era inocente.
O homem de 25 anos que assassinou à machadinha e a facadas 4 crianças na creche de Blumenau, e feriu 5 disse à polícia que cumpriu ordens de outro que o ameaçou.
Parece mais razoável que tenha agido sob o estímulo do discurso do ódio, da intolerância e do preconceito que a extrema-direita propaga abertamente nas redes sociais, e não só no esgoto delas.
Mentes doentes não racionalizam. Confundem violência com coragem. Os que se sentem marginalizados e injustiçados pela vida que levam são presas fáceis do desejo de vingança.
É previsível que haja novos ataques a creches e escolas pelo país. O efeito imitação é poderoso. É tão certo como esperar que nos Estados Unidos, a essa hora, um atirador esteja matando a esmo.
Levantamento da Universidade de São Paulo registra que 22 ações violentas contra unidades de ensino aconteceram no Brasil desde 2002 – metade delas de 2022 para cá. Total de mortos: 40.
O celular já foi um artefato inocente. A internet, um meio que daria voz aos que não tinham voz, aproximando as pessoas e as incentivando a se entenderem; um ideal do paraíso.
Enquanto as redes sociais não forem reguladas, e se dependerem dos seus donos jamais serão, elas continuarão servindo de pasto viçoso para alimentar os instintos humanos mais viscerais.
Não basta regulá-las. Nem apenas cobrar dos governos medidas de reforço à segurança pública. É preciso que caia a ficha da sociedade e que nos mobilizemos para enfrentar a banalização do mal.
Mais educação. Mais saúde. Mais renda para quem tem pouca, o que quer dizer menos desigualdade. Mais rigor na venda de armas. Mais mão pesada da justiça no julgamento de crimes bárbaros.
E fé. Sim, acreditar que ainda é possível a construção de um mundo melhor. Sem esperança, só andaremos para trás.
A violência é a face mais cruel e horrorosa do legado do ex-capitão
É preciso destruir o “sistema” para depois pôr outro em seu lugar, pregou Jair Bolsonaro na sua primeira viagem aos Estados Unidos depois de eleito presidente.
Não sabia direito o que era o “sistema”, só de ouvir falar os extremistas da direita americana, e o guru dos seus filhos, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho.
Muito menos sabia o que deveria ser posto no lugar. Mas se remasse na contramão do politicamente correto, desacreditasse a esquerda e usasse a religião como aríete, talvez chegasse lá.
Então, Deus acima de tudo, e armas baratas e com fartura nas mãos de quem as desejasse, não importava o que fizessem com elas. Povo armado, dizia e repetia, jamais seria escravo.
E o povo armou-se numa escala extraordinária e a pretexto de defender-se de qualquer coisa; e os ressentidos, os imitadores de costumes alheios, viram nisso sua chance de afirmação.
Sem falar das milícias, do crime organizado, dos matadores de aluguel que têm no poder de fogo a razão de ser dos seus negócios. E um país violento por natureza, tornou-se ainda mais violento.
É o que explica e ajuda a explicar, mas não só, o crescimento dos casos de violência contra as mulheres e os assassinatos bárbaros como os das crianças de Blumenau.
Bolsonaro perdeu, pode tornar-se inelegível, mas não o será por ter contribuído para a exacerbação dos instintos primitivos de uma parcela dos brasileiros. Essa seria outra conta a ser paga por ele.
O mal que ele fez está consumado. O desafio do novo governo, mais um, será remediá-lo ou fazê-lo retroceder a níveis suportáveis. É tarefa para mais de um governo. Que assim seja.
Especialistas defendem espaços de expressão de sentimentos em escolas
A cultura de diálogo que fortaleça os valores democráticos nas escolas é um dos caminhos apontados por educadores para frear o aumento de ataques em escolas do país. Antes incomum, os crimes têm exigido atenção das autoridades e gerado alerta entre famílias e estudantes.
Catarina de Almeida, professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), vê as instituições de ensino mais vulneráveis por motivos que não estão ligados à falta de instrumentos de segurança.
“As escolas têm sido perseguidas quando tratam de temas como educação sexual, questões de gênero, racismo, misoginia. Temos inclusive muitos parlamentares que expõem a figura do professor ou da professora. E isso é uma questão muita séria para a saúde psíquica desses professores. Ainda passam para a sociedade a ideia de que qualquer pessoa pode entrar numa escola e dizer o que ela deve ou não fazer “, avalia.
Segundo Catarina, a redução de componentes curriculares de ciências humanas e sociais aplicadas – história, filosofia, sociologia e geografia – no ensino médio fazem com que estudantes tenham dificuldades de compreender noções de justiça, solidariedade, respeito aos direitos humanos e combate aos preconceitos de qualquer natureza. Ao mesmo tempo, Catarina defende a criação de políticas públicas para capacitar as comunidades escolares e familiares a identificar alterações comportamentais nos jovens e observarem o conteúdo digital consumido por crianças e adolescentes.
Para a educadora Telma Vinha, coordenadora de pesquisa realizada pela Unicamp sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, é preciso desenvolver, por meio de políticas públicas, uma cultura de diálogo nas escolas que fortaleçam os valores democráticos. Ela defende a criação espaços de expressão de sentimento, voltados para fomentar um clima positivo na convivência, e também espaços de mediação de conflitos que podem envolver assembleias coletivas e reuniões privadas onde os estudantes aprendem a usar o diálogo em substituição à violência.
“Hoje os profissionais da educação atuam como bombeiro. Só atuam depois que os conflitos entre alunos já estão ocorrendo na escola. É preciso criar um clima positivo de convivência capaz de evitar que eles surjam. Mas só é possível capitaneado pelo Ministério da Educação, por secretarias estaduais de educação. Não dá para responsabilizar individualmente cada escola”.
Ainda segundo ela, quando ocorrem esses episódios, muitas das soluções apresentadas se baseiam apenas em medidas de segurança. “Nos Estados Unidos, o excesso de aparato de segurança nas escolas não resolve. Lá tem detector de metal, câmeras 3D, e os casos continuam ocorrendo”, alertou.
Paralelamente aos projetos que envolvem a escola, a ampliação do trabalho de inteligência é considerada fundamental. Na semana passada, mensagens contendo ameaças de ataque a uma escola do Rio de Janeiro foram encontradas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública durante monitoramento na internet. O conteúdo foi encaminhado à Polícia Civil, que apreendeu uma adolescente de 12 anos, órfã de mãe e, segundo as investigações, com problemas de relacionamento na instituição de ensino, onde seria vítima de bullying. De acordo com os policiais, ela admitiu ser a autora das mensagens.
Em 2021, um jovem de 16 anos também foi apreendido em Goiânia após a identificação de conversas onde ele anunciava admitia ser fã do nazismo e afirmava estar pronto para cometer algum ataque em escola, pois teria facilidade em acessar material bélico. Telma observa que hoje não há uma plataforma centralizada de denúncia, onde estudantes possam ir quando veem algo na internet ou em grupos privados.
“Às vezes contam para o diretor, que não sabe o que fazer e faz um boletim na delegacia do bairro”, relata. Ela avalia que a criação de um canal unificado facilitará com que as denúncias sejam feitas e permitirá que elas sejam levadas mais à sério e sejam investigadas com inteligência.
Armas de fogo
Nem todos os episódios de violência em ambiente escolar estão relacionados com armas de fogo. Ainda assim, de acordo com o levantamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as armas de fogo foram usadas em mais da metade dos casos: 12 dos 22 ataques. Em seis episódios, o jovem teve acesso ao armamento em casa.
O documento produzido pelo grupo mobilizado pelo professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, compilou dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública para apontar os efeitos das políticas de flexibilização das normas para compra de armas adotadas durante o governo de Jair Bolsonaro, entre 2018 e 2022. No período, o número de registros de armas em mãos de caçadores, atiradores e colecionadores quase sextuplicou alcançando a marca de 673.818.
“Esses dados são fundamentais para a desconstrução da narrativa que coloca essa violência na conta das escolas, que apontam soluções fáceis, que geralmente, culpabilizam as instituições escolares”, apontam os pesquisadores. Eles cobram alterações normativas e legais que revertam esse quadro.
Mudanças na legislação
No documento, educadores defendem atualizações no Código Penal para tipificar condutas relacionadas à cooptação e recrutamento de crianças e adolescentes por grupos e ideologias de extremistas de direita. Também advogam pela tipificação da fabricação, comercialização, distribuição e veiculação de símbolos, emblemas, distintivos ou propaganda de teor supremacista que façam ou não uso da cruz suástica.
Uma outra mudança fundamental na ótica dos pesquisadores é a adoção de um novo marco regulatório para a internet que seja capaz de oferecer mecanismos contra a circulação de discursos de ódio e desinformação promovidos não apenas por grupos neonazistas, mas também por lideranças públicas políticas e sociais que ganharam visibilidade em diversos lugares do mundo onde a extrema-direita cresceu nos últimos anos. Fóruns virtuais, chats, redes sociais e aplicativos como Telegram, Whatsapp e Discord se tornaram espaços de disseminação desses conteúdos.
A responsabilização das plataformas pelas publicações dos usuários exige alterações no Marco Civil da Internet e é um assunto controverso que vem gerando debates institucionais. O tema esteve em pauta no mês passado em uma audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Telma Vinha observa que fóruns de grupos neonazistas se encontravam anteriormente na chamada Deep Web, que não é indexada em sistemas de busca e é de acesso mais restrito, demandando navegadores específicos. “Nos últimos anos, eles passaram para a superfície da internet. É de fácil acesso através das redes sociais”, afirma.
Os pesquisadores da Unicamp possuem prints de mensagens ameaçadoras encontradas em redes sociais. Uma dessas postagens, em que o autor afirma já ter armas, vestimentas e um parceiro na escola que topou executar seu plano, continha 43 curtidas. A publicação ficou cerca de um mês no Twitter.
A forma de funcionamento dos algoritmos das redes sociais também gera preocupação: ao curtir uma mensagem desse teor ou assistir um vídeo contendo discurso de ódio, outros perfis e publicações similares são recomendados. E além de facilitar o acesso a esses conteúdos, muitos deles são monetizados a partir de publicidade direcionada pela própria plataforma.
Abordagem jornalística
Cuidados que a mídia deve ter ao reportar um ataque foram discutidos em webinário promovido pela Jeduca, uma associação formada por jornalistas que cobrem educação.
Pesquisadores consideram que determinados tipos de cobertura podem influenciar novos episódios. Segundo Catarina, é preciso uma abordagem jornalística que evite dar notoriedade ao autor do ataque, uma vez que este é exatamente o seu objetivo e a atenção da mídia é percebida como recompensa. Ela considera inadequado mostrar imagens da ação e dar relevância à história de vida do autor. “A exposição aumenta o status social daquele que provocou o ataque, gerando uma notoriedade que é desejada por outros”, observa.
Em sua visão, o detalhamento da história de vida do autor acaba por individualizar o caso podendo, por exemplo, passar a ideia equivocada de que ele está unicamente relacionado com um quadro de depressão. Ela reitera que se trata de um fenômeno mais complexo. “Ficar dizendo que o autor estava se vingando por ter sofrido bullying e falar das origens do atirador pode fazer com outros jovens se identifiquem”, acrescenta a pesquisadora.
Além disso, as extensas coberturas com o relato minucioso, que revelam o passo a passo do plano de ataque, podem proporcionar disseminação de informação indesejada. “Os autores buscam observar aquilo que outros já fizeram. Como eles não se conhecem, onde eles buscam obter essas informações? Na mídia. Então a mídia pode influenciar na proliferação desses ataques realizados por jovens em escolas”, avalia Catarina.
A pesquisadora afirma que há projetos de lei em tramitação no Congresso inspirados em medidas adotadas na Nova Zelândia, onde é proibido noticiar informações sobre o autor do ataque e sobre os procedimentos utilizados. Ela também observa que diretrizes já elaboradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para cobertura de casos de suicídio também podem ser válidas para reportagens sobre ocorrências de ataques em escolas. A entidade recomenda evitar o sensacionalismo, não mostrar vídeos e fotografias da ação, não fornecer descrição passo a passo dos métodos.
Para Catarina, é preciso reduzir o tempo de cobertura midiática sobre os ataques. De outro lado, ele acredita que a imprensa pode contribuir para o enfrentamento da situação se focar nas punições, se retratar a ação como algo vergonhoso e se, passado o calor do momento, acompanhar e cobrar a implementação de propostas.
Ministério da Justiça monta força-tarefa contra violência nas escolas
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) começou, na quinta-feira (6), a Operação Escola Segura, com o objetivo de realizar ações preventivas e repressivas contra ataques nas escolas de todo o país. A operação conta com a participação das delegacias contra crimes cibernéticos das principais regiões brasileiras, que atuarão de forma alinhada com as estratégias da pasta.
De acordo com o secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, a integração entre as forças de segurança estaduais e o MJSP será fundamental para enfrentar essa onda de criminalidade no ambiente escolar. “Numa questão como essa, que comove o país, nós temos que dar as mãos, juntar esforços, temos que reunir uma energia muito grande porque vem a indignação, vem a comoção, mas vem a nossa responsabilidade de fazer esse enfrentamento”, afirmou Alencar.
As autoridades da área de segurança pública reforçam a necessidade de ampliação do diálogo com as plataformas responsáveis pelas redes sociais em atuação no Brasil. De acordo com delegados presentes no lançamento da Operação Escola Segura, a cooperação entre todos os atores envolvidos será fundamental para prevenir e reagir aos casos de violência nas escolas, bem como para identificar pessoas que incentivem ataques.
Na próxima segunda-feira (10), está prevista uma reunião com representantes das redes sociais para alinhar um protocolo de ação. Segundo especialistas em segurança pública, muitos jovens são recrutados por essas redes, que se tornou uma espécie de “vitrine” para grupos extremistas que impulsionam discurso de ódio.
Outro ponto importante é o papel da mídia na divulgação destes tipos de casos. Segundo o MJSP, as recomendações vão no sentido de não divulgar os nomes dos autores, nem quaisquer tipos de imagens, vídeos ou símbolos que os identifiquem, sob nenhuma hipótese. Essa medida previne o chamado “efeito contágio”, que pode desencadear outros ataques ou eventos semelhantes em um curto período e em uma área geográfica próxima.
Dentro do pacote de ações do Ministério da Justiça para o combate à violência, a pasta deve investir R$ 150 milhões no apoio às rondas escolares ou ações similares. A medida, autorizada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, será feita por meio de um edital, a ser divulgado já na próxima semana. Os recursos sairão do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e serão ofertados aos estados e municípios, que detém a competência constitucional para fazer o patrulhamento ostensivo.
Após os últimos ataques, o governo paulista também se apressou em anunciar algumas medidas, entre elas a alocação de policiais dentro das escolas e a ampliação de investimento em um programa de mediação de conflitos nas unidades de ensino. Em Santa Catarina, o prefeito de Blumenau prometeu a criação de um protocolo de prevenção para evitar novos casos.
A repercussão dos casos recentes também levou a adoção de medidas em outros estados. O governo do Rio de Janeiro anunciou a criação de um Comitê Permanente de Segurança Escolar com representantes da Segurança Pública e da Educação para atuar na prevenção às situações de violência nas escolas públicas e privadas.
Fernando Frazão – Abr
PF vai investigar grupos nazistas e neonazistas no Brasil
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou na madrugada a abertura de um inquérito da Polícia Federal para investigar organizações nazistas e neonazistas no Brasil, no âmbito de crimes como racismo e apologia ao nazismo.
Segundo o ministro, existem suspeitas de que essas redes atuem em estados diferentes. “Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure Inquérito Policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, escreveu o ministro em uma rede social.
A lei mencionada por Dino, sancionada pelo então presidente José Sarney, define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Uma reportagem do programa Fantástico da Rede Globo no último domingo revelou que a Polícia Civil do estado de Santa Catarina havia descoberto uma filial no Brasil de uma organização internacional de supremacia branca.
As investigações, que resultaram na prisão de dez suspeitos, concluíram que o grupo planejava criar uma célula radical de supremacia branca no Brasil. A Polícia catarinense disse ter encontrado mensagens criminosas nos telefones dos investigados, incluindo uma que afirmava que “pretos têm que morrer todos os dias”.
Policiais envolvidos na ação disseram se tratar de uma “organização skinhead neonazista transnacional”, e que foram encontradas com os suspeitos roupas que os identificam como um grupo neonazista.
Os integrantes do grupo recrutavam jovens por meio de contatos via internet para participarem de outras células neonazistas.
Nos Estados Unidos, essa organização é considerada uma dos mais violentas e organizadas, e possui ramificações na Alemanha, Portugal e outros países.
Dino determinou a ação da PF após a ocorrência de dois ataques violentos em um curto espaço de tempo, em uma escola de São Paulo e na creche em Santa Catarina.
Em entrevista ao jornal O Globo, o professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara afirmou que esses padrões são o prenúncio do ataque pela internet, a exaltação de outros agressores que se são vistos como mártires e o uso de símbolos neonazistas.
O pesquisador organizou um relatório elaborado por 12 especialistas em educação e extremismo que contém sugestões para evitar esse tipo de ataque.
Sobre o ataque à escola paulista, ele diz que “entender que se trata de extremismo de direita é um ponto nevrálgico, porque esses grupos têm caráter neonazista. Mesmo que os jovens não se identifiquem como neonazistas, eles usam os mesmos símbolos, as mesmas referências”.
Aumento das células extremistas
Um levantamento realizado pela da ONG Anti-Defamation League (ADL) em 2022 concluiu que o Brasil é o país onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, especialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo o estudo, monitorado pela doutora em antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) Adriana Dias, que morreu em janeiro deste ano, a maioria desses grupos (137) está em São Paulo, sendo que a maior parte está concentrada na capital, com 51 células.
De acordo com os dados, havia no país mais de 530 grupos extremistas nos primeiros meses de 2022, contra 334 células que foram identificadas em 2019.
Dias dividiu esses grupos em categorias como hitlerista/nazista, negação do Holocausto, ultranacionalista branco, radical catolicismo, fascismo, supremacista, criatividade Brasil, masculinismo, supremacia misógina e neo-paganismo racista.
A audiência pública “Revoga Novo Ensino Médio – O Ensino Médio no centro dos debates por uma Educação democrática”, reuniu na tarde de terça (11), centenas de educadores e estudantes no Teatro Dom Bosco, em Campo Grande. Profissionais da área da Educação de todo o Estado participaram dos debates promovidos pela FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de MS) e pelo mandato do parlamentar petista, professor e deputado estadual Pedro Kemp. Foi aprovado um manifesto pela revogação da Lei Federal 13.415/2017, que instituiu o novo Ensino Médio. “Um projeto que veio de cima, uma reforma tão profunda que não teve a participação dos principais envolvidos, que são os professores e os estudantes. Nós tivemos um empobrecimento no Ensino Médio. O que tentaram fazer foi a profissionalização dos nossos jovens para que sejam uma mão de obra barata. É uma reforma que interessa apenas aos empresários, que querem o jovem só para apertar o botão da máquina. E o que nós queremos? Queremos um Ensino Médio que ofereça uma formação sólida aos estudantes”, disse Kemp. “Primeiro que o novo Ensino Médio foi feito por medida provisória, não foi discutido com nenhuma parte da sociedade. Segundo, o novo Ensino Médio reduziu a carga horaria mínima que era obrigatória, de 2,4 mil para 1,8 mil, portanto, empobreceu o currículo do aluno e terceirizou 30% dos professores que atuavam no mercado. É evidente que as turmas que entraram nesse itinerário vão ter que terminar com esse itinerário, agora, em nível de Brasil entendemos que é possível modificar e voltar a uma carga horaria que dê mais qualidade para o ensino médio”, explicou o presidente da Fetems, professor Jaime Teixeira. Os palestrantes foram o presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Heleno Araújo e via online, a professora da Universidade Federal do Paraná, a pesquisadora Monica Ribeiro da Silva. Desabafo “É desesperador ver a situação da educação”, desabafou o estudante Lucas Vinícius da Silva Ávila, 16. “Vemos assuntos não essenciais colocados na nossa escola. Professores dão aula de coisas que não estão preparados. Isso faz mal para os nossos professores. Não quero aprender fazer sabão. Eu quero aprender sobre economia, sobre política. Quero ser um cidadão crítico e pensante”, disse o aluno.
De acordo com a professora Mônica, que participou por videoconferência, o problema do novo Ensino Médio impacta negativamente a Educação brasileira. “Não se se trata de um problema de implementação, que poderia ser resolvido com pequenos ajustes”, iniciou a professora, que é pesquisadora na área de Políticas Educacionais com ênfase para o Ensino Médio e na avaliação de políticas públicas. Ela explicou que o problema é estrutural, de concepção desde a Medida Provisória 746/2016, que criou o novo Ensino Médio.
Conforme a professora, considerar apenas Língua Portuguesa e Matemática como obrigatórias diminui a carga horária das outras disciplinas e afeta a formação científica integral dos estudantes já que há a redução, em média de 30%, da carga horária das disciplinas da formação geral básica para incluir no currículo as chamadas eletivas. “Por isso é preciso defender a sua revogação!”. A especialista considerou absurdo o projeto de modalidade à distância. “Isso é uma farsa. No tal do sexto tempo, por exemplo, os alunos teriam aula remota. Mas isso é uma mentira. É uma miscelânea de temas, que causa um esvaziamento do conhecimento escolar”. As escolas agregam na mesma sala alunos de turmas e níveis diferentes e oferecem temas diversos, alguns bastante certificados, como a que ensina fazer brigadeiro. “Com isso tudo, estamos roubando do nosso jovem o direito de sonhar com o ensino superior”.
O presidente da CNTE disse que o modo como ocorre a implantação do novo Ensino Médio “quebra todo o processo de discussão, de debate sobre o que os jovens, realmente, precisam dentro de nossas escolas”. De acordo com ele, o processo deveria ter participação social com foco na formação integral dos estudantes e com estímulo à solidariedade. “Mas essa Medida Provisória [746/2016] é fruto de concepção gerencialista, com foco no resultado e que estimula a competição. E nessa competição, os mais fracos vão ficando para trás, saindo das escolas”, resumiu.
Manifesto pela revogação
No final do encontro, foi lido e aprovado um manifesto (leia na íntegra abaixo) pedindo a revogação do novo Ensino Médio. O documento, que será enviado ao MEC (Ministério da Educação) e ao Governo do Estado, reúne em seis tópicos as motivações de discordâncias do projeto: retomada do “modelo arcaico de segmentação (dicotomia) entre a formação geral e os itinerários formativos”; restrição da “parte universal do currículo, voltada para a formação humanística e cidadã dos estudantes, a apenas 1.800 horas”; não garantia da “livre escolha dos/as estudantes aos itinerários formativos”; fomento da “privatização de parte expressiva do currículo escolar”; estímulo á evasão escolar; e rebaixamento do “trabalho pedagógico escolar e da profissionalidade de professores/as e funcionários/as da educação”.
O manifesto afirma, ainda, que o novo modelo acentua a desigualdade entre estudantes pobres e os de classe média e ricos. “O ‘Novo Ensino Médio’ (NEM) é uma política que impõe inadmissível apartheid socioeducacional à maioria dos estudantes das escolas públicas, na medida em que nega o acesso à escola para milhões de jovens, rebaixa o currículo das redes públicas, prejudicando a formação e o ingresso de estudantes das classes populares em universidades públicas, além de induz a terminalidade dos estudos para a maioria dos filhos e filhas da classe trabalhadora, qualificando-os intencionalmente para ocupar postos de baixa complexidade e remuneração no mundo do trabalho”, afirma trecho da carta.
“É desesperador ver a situação da educação”. A frase, dita pelo estudante Lucas Vinícius da Silva Ávila, 16 anos, traduz o sentimento partilhado por professores, alunos, representantes sindicais e parlamentares que, na tarde desta terça-feira (11), lotaram o anfiteatro Dom Bosco, em Campo Grande, na audiência pública que debateu o novo Ensino Médio. O evento, que contou com presença de parlamentares da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), foi proposto pelo deputado Pedro Kemp (PT), em iniciativa conjunta com a Federação dos Trabalhadores de Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems). No final do encontro, foi aprovado um manifesto pela revogação da Lei Federal 13.415/2017, que instituiu o novo Ensino Médio.
Pedro Kemp: “Nós tivemos um empobrecimento no Ensino Médio”
“Um projeto que veio de cima, uma reforma tão profunda que não teve a participação dos principais envolvidos, que são os professores e os estudantes”, afirmou o deputado Pedro Kemp, que abriu a audiência. “Nós tivemos um empobrecimento no Ensino Médio. O que tentaram fazer foi a profissionalização dos nossos jovens para que sejam uma mão de obra barata. É uma reforma que interessa apenas aos empresários, que querem o jovem só para apertar o botão da máquina. E o que nós queremos? Queremos um Ensino Médio que ofereça uma formação sólida aos estudantes”, acrescentou o parlamentar.
Monica: “Roubamos do jovem o direito de sonhar com ensino superior”
(Foto: Osvaldo Júnior)
Antes de sua fala de abertura, Pedro Kemp lembrou do deputado Amarildo Cruz, falecido no dia 17 de março deste ano. “Peço uma salva de palmas ao nosso companheiro Amarildo, que sempre foi um defensor dos trabalhadores e da educação. Que a memória do nosso companheiro possa estar presente na nossa luta”, saudou o deputado.
O tom da audiência foi pela revogação do novo Ensino Médio, o que contou com aprofundamento dos dois palestrantes: a doutora em Educação, Monica Ribeiro da Silva, titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo.
Heleno: “Esse modelo foca o resutado e estimula a competição”
De acordo com a professora Mônica, que participou por videoconferência, o problema do novo Ensino Médio não é de implementação, mas sim de concepção. “Não se se trata de um problema de implementação, que poderia ser resolvido com pequenos ajustes”, iniciou a professora, que é pesquisadora na área de Políticas Educacionais com ênfase para o Ensino Médio e na avaliação de políticas públicas. Ela explicou que o problema é estrutural, de concepção desde a Medida Provisória 746/2016, que criou o novo Ensino Médio.
Conforme a professora, considerar apenas Língua Portuguesa e Matemática como obrigatórias diminui a carga horária das outras disciplinas e afeta a formação científica integral dos estudantes. Outra questão, relacionada a essa, é a redução, em média de 30%, da carga horária das disciplinas da formação geral básica para incluir no currículo as chamadas eletivas. “Por isso é preciso defender a sua revogação”, reforçou.
A professora também criticou o projeto de modalidade à distância. “Isso é uma farsa. No tal do sexto tempo, por exemplo, os alunos teriam aula remota. Mas isso é uma mentira”, exemplificou. “É uma miscelânia de temas, que causa um esvaziamento do conhecimento escolar”, disse em referência às unidades curriculares, que agregam na mesma sala alunos de turmas e níveis diferentes e oferecem temas diversos, alguns bastante certificados, como a que ensina fazer brigadeiro. “Com isso tudo, estamos roubando do nosso jovem o direito de sonhar com o ensino superior”, finalizou.
Lucas Vinícius: “É desesperador ver a situação da educação”
(Foto: Osvaldo Júnior)
Heleno Araújo afirmou que o modo como ocorre a implantação do novo Ensino Médio “quebra todo o processo de discussão, de debate sobre o que os jovens, realmente, precisam dentro de nossas escolas”. De acordo com ele, o processo deveria ter participação social com foco na formação integral dos estudantes e com estímulo à solidariedade. “Mas essa Medida Provisória [746/2016] é fruto de concepção gerencialista, com foco no resultado e que estimula a competição. E nessa competição, os mais fracos vão ficando para trás, saindo das escolas”, considerou.
Após a palestras, diversas pessoas usaram a palavras, entre as quais alguns estudantes. São jovens que sentem, no seu cotidiano, os problemas mencionados e criticados pelos participantes da audiência. Entre eles, estava Lucas Vinicius da Silva Ávila, que definiu como desesperadora a situação da educação. “Vemos assuntos não essenciais colocados na nossa escola. Professores dão aula de coisas que não estão preparados. Isso faz mal para os nossos professores. Não quero aprender fazer sabão. Eu quero aprender sobre economia, sobre política. Quero ser um cidadão crítico e pensante”, disse o aluno.
Manifesto pela revogação
No final do encontro, foi lido e aprovado um manifesto (leia na íntegra) pedindo a revogação do novo Ensino Médio. O documento, que será enviado ao Ministério da Educação e ao Governo do Estado, reúne em seis tópicos as motivações de discordâncias do projeto: retomada do “modelo arcaico de segmentação (dicotomia) entre a formação geral e os itinerários formativos”; restrição da “parte universal do currículo, voltada para a formação humanística e cidadã dos estudantes, a apenas 1.800 horas”; não garantia da “livre escolha dos/as estudantes aos itinerários formativos”; fomento da “privatização de parte expressiva do currículo escolar”; estímulo á evasão escolar; e rebaixamento do “trabalho pedagógico escolar e da profissionalidade de professores/as e funcionários/as da educação”.
O manifesto afirma, ainda, que o novo modelo acentua a desigualdade entre estudantes pobres e os de classe média e ricos. “O ‘Novo Ensino Médio’ (NEM) é uma política que impõe inadmissível apartheid socioeducacional à maioria dos estudantes das escolas públicas, na medida em que nega o acesso à escola para milhões de jovens, rebaixa o currículo das redes públicas, prejudicando a formação e o ingresso de estudantes das classes populares em universidades públicas, além de induz a terminalidade dos estudos para a maioria dos filhos e filhas da classe trabalhadora, qualificando-os intencionalmente para ocupar postos de baixa complexidade e remuneração no mundo do trabalho”, afirma trecho da carta. (Osvaldo Júniro/ALEMS)